Nestório começou a defender Anastásio, seu sacerdote, que pregou que a Santa Virgem não deveria ser chamada Mãe de Deus, visto que, sendo ela humana, não poderia dar à luz Deus. Isto era uma ofensa para todos os cristãos, que não viam nisto outra coisa senão que ele sustentava que Cristo, nascido de Maria, não era Deus, mas um mero homem, como todos nós; e disto brotou tal estado de coisas que o imperador teve que convocar um Concílio para ajudar…

Além disso, ele admitiu que Cristo, o Filho de Deus, nasceu da Virgem Maria, de acordo com Sua Humanidade, não de acordo com Sua Divindade, como nós, e todos os cristãos, também dizemos. Mas aqui ele se deparou com uma dificuldade. Ele não queria que Maria fosse chamada, por causa disso, Mãe de Deus, visto que Cristo não nasceu dela de acordo com Sua Divindade; ou, para falar claramente, ele cria que a divindade de Cristo não derivava dela, como derivava sua humanidade…

Nós também sabemos muito bem que Cristo não deriva sua divindade de Maria; mas disto não se segue que deva ser falso, assim sendo, dizer: “Deus nasceu de Maria”, e “Deus é o Filho de Maria”, e “Maria é a Mãe de Deus˜. Eu devo lhe dar uma ilustração simples. Digamos que uma mulher dê à luz uma criança e um inútil Nestório, … sendo orgulho e ignorante, levanta o sofisma:

“Esta mulher deu à luz a criança, mas ela não é sua mãe, pelo fato de que a alma da criança não é de sua natureza ou sangue, mas é infusa de outro lugar, i. e., de Deus. Logo, essa criança é, de fato, nascida da mulher, de acordo com o corpo, mas, visto que sua alma não provém da alma dela, ela não é mãe da criança, pois que ela não é mãe de sua alma”.

Este miserável sofista não nega que as duas naturezas, corpo e alma, são uma pessoa; mas ele confessa que as duas naturezas, corpo e alma, são uma pessoa, ou uma criança, e que a mãe deu à luz não duas crianças, mas uma; mas ele não vê o que está negando ou o que está dizendo. Dessa forma era Nestório. Ele admite que Cristo é Deus e homem em uma Pessoa; mas, visto que Sua Divindade não provém de Sua mãe, Maria, ela não deve ser chamada Mãe de Deus. Isto foi corretamente condenado no Concílio, e deveria ser condenado. Apesar de Nestório sustentar uma opinião correta sobre um ponto da questão principal, que Cristo é Deus e homem; ainda assim, o outro ponto não é para ser tolerado. Ele é expresso em palavras e sentenças como “Deus não nasceu de Maria e não foi crucificado pelos judeus”.

Os sofistas dizem corretamente, em um ponto, que a mãe não pode dar à luz, ou gerar, a alma da criança, mas não é para ser tolerado quando eles dizem que a criança não é o filho natural da mãe e que a mãe não é a mãe natural do filho…Aquele que admite que a mãe deu à luz uma criança, que é ao mesmo tempo corpo e alma, deve também dizer e crer que a mãe deu à luz a criança inteira, e é sua mãe, ainda que ela não seja a mãe de sua alma…

Assim sendo, deve ser dito que Maria é a mãe verdadeira e natural da criança chamada Jesus Cristo, e a verdadeira Mãe e Portadora de Deus. Portanto, o que quer que possa ser dito das mães das crianças pode ser dito sobre Ela; elas amamentam suas crianças, as banham, as dão comida e bebida, e Maria amamentou Deus, balançou Deus, fez caldo e sopa para Deus. Pois Deus e homem são uma só Pessoa, um Cristo, um Filho, um Jesus, não duas Pessoas, não dois Cristos, não dois Filhos, não dois Jesuses; do mesmo modo que seu filho não é dois filhos, …, ainda que ele tenha duas naturezas, corpo e alma, corpo de você, alma somente de Deus.

(Dos Concílios e das Igrejas, Março de 1539; traduzido por C. M. Jacobs; quebras de parágrafo acrescentadas).

Da Página do Dave Armstrong. Artigo original aqui.

Traduzido por Arthur Jordan.