No passado, eu notei o completo desdém de Martinho Lutero pelos “sacramentários”: pessoas que negavam a Presença Real na Eucaristia, pessoas como Zwinglio e Oekolampad. Ele pensava que estavam condenados. Eu acabei de descobrir algo que eu não tinha notado antes: esses “reformadores” suíços, junto com o camarada Martin Bucer, aparentemente negaram que Lutero e seus companheiros luteranos fossem cristãos antes mesmo que Lutero tivesse feito seu julgamento negativo sobre eles (talvez sendo essa atitude responsável por certa quantidade de veneno extra nas réplicas de Lutero para eles no período de 1526 – 1528).
Eu encontrei esses dizeres nas notas de rodapé presentes em Luther’s Work (LW), referentes ao tratado de Lutero: “That These Words of Christ, ‘This is My Body,’ Etc., Still Stand Firm Against the Fanatics” (Que Aquelas Palavras de Cristo, ‘Isto é o meu Corpo’, Etc., Ainda Permanecem Firmes Contra os Fanáticos) – publicado em tradução inglesa no Vol. 37, p. 13 ff. Os editores documentaram essas acusações para substanciar e dar um plano de fundo às descrições que Lutero faz das opiniões sobre ele, e sobre os luteranos, no seu tratado. Por exemplo:
Visto que eles nos consideram como “não-Cristãos” a quem o Espírito de Deus abandonou … (p. 21)
Além disso, nós, ímpios e imprudentes “não-Cristãos”, devemos tolerar que esses santos e moderados mestres nos insultem como idólatras e que nosso Deus seja chamado de Deus cozido, de Deus comestível e potável, de Deus-pão, de Deus-vinho, e nós mesmos chamados de cristãos abandonados-por-Deus e tais nomes. Este abuso diabólico e completamente venenosos excede todos os limites. Uma pessoa preferiria ser repreendida por estar cheia de demônios que ter um “Deus cozido”. (p.22)
Visto que nós, “não-Cristãos” e pagãos imprudentes, eu digo, devamos sofrer estas vilificações caluniosas e vergonhosas deles, eles, como santos Cristãos … como eles me consideram como cheio de demônios. (p. 23)
As notas de rodapé documentam essas acusações:
19 Oekolampad: “se o real, o verdadeiro Espírito de Deus não vos abandonou agora …” Reasonable Answer. St. L. 20, 599. Ele frequentemente aplicava Gal. 4,9 para seus adversários: “Eles se voltaram de Cristo para os elementos fracos e pobres”. Apologetics, 1526 M 7f. Zwinglio escreveu, em 5 de abril de 1525, que seus adversários na controvérsia sobre a Ceia do Senhor “não são conduzidos pelo mesmo Espírito”. C. R. 95, 317. Bucer: “Que Lutero reconheça que ele está sendo conduzido por um espírito muito diferente daquele de Cristo”. Preface, 1527. St. L. 17, 1601. Lutero e os seus são frequentemente admoestados para rezar pelo Espírito de Deus (cf. Bucer, ibid.), que os suíços e os de Estrasburgo clamam ter sido revelado para eles. Oekolampad, Apologetics, H 4; Bucer, Apology, 1526, 35. Veja Luther’s Letter to Spalatin, 27 de março de 1526 … (p. 21)
24 Zwinglio comparou a “adoração do pão consagrado” com a adoração do bezerro de ouro em Dan (1 Reis 12,28). Carta para Matthew Alber, publicada em 1525. C. R. 90, 342; St. L. 17, 1520. Ele ridicularizou o Deus “comestível, embutido, cozido, assado e moído” luterano. Réplica para Urban Rhegius. C. R. 91, 934. Oekolampad defendeu o epíteto “comedores da carne de Deus e bebedores do sangue de Deus” em Reasonable Answer. St. L. 20, 588. Cf. Carta de Lutero para Gregory Casel, novembro de 1525. (p. 22)
Notavelmente, Zwinglio negava aos sacramentos qualquer poder de transferência da graça:
“Está claro que comer a Eucaristia não remove pecados”. Carta para Alber. C. R. 90, 351; St. L. 17, 1528. “Eles estão errados, por toda a largura do céu, que pensam que os sacramentos tem qualquer poder purificador”. Commentary. LWZ 3, 182. (p. 102)
O “reformador” suíço e sucessor de Zwinglio, Heinrich Bullinger, da mesma forma, escoriou o caráter de Lutero:
Todos devem estar atônitos com o espírito severo e presunçoso do homem…a opinião da posteridade será que Lutero foi … um homem governado por paixões criminosas.
A hostilidade rude de Lutero poderia ser aprovada se ele deixasse intacto o respeito pela Sagrada Escritura … O que já aconteceu nos leva a apreender que esse homem eventualmente trará grandes infortúnios sobre a Igreja (Carta para Martin Bucer, 8 de dezembro de 1543; em Grisar, Luther, Vol. 5, 409 e III, 417).
“Governado por paixões criminosas”, huh? Lutero nem mesmo “respeita” a Bíblia? E ele traz “grandes infortúnios sobre a Igreja”? Até João Calvino, geralmente mais respeitoso com Lutero, teve seus momentos de franqueza:
… se Lutero tem tão grande luxúria pela vitória, ele nunca será capaz de se unir conosco em um sincero acordo respeitando a pura verdade de Deus. Pois ele pecou contra ela não somente através da vanglória e da linguagem abusiva, mas também pela ignorância e extravagância mais grosseira. Pois que absurdidades ele nos legou desde o começo, quando ele disse que o pão é o próprio corpo!
E se agora ele imagina que o corpo de Cristo está envelopado pelo pão, eu jugo que ele é acusado de um erro muito abominável. O que eu posso dizer dos partidários da causa? Eles não romanceiam mais largamente que Marcião a respeito do corpo de Cristo? … (Carta para Martin Bucer, 12 janeiro de 1538; em John Dillenberger, editor, John Calvin: Selections From His Writings, Garden City, New York: Doubleday & Co. [Anchor Books], 1971, p. 47; A carta de Calvino para Martin Bucer em 1538 foi traduzida por Marcus Robert Gilchrist)
Okay. Então Calvino pensa que Lutero tem uma grande “luxúria pela vitória”, que está incapaz ou relutante a respeito da “pura verdade de Deus”. Ele “pecou” grandemente em termos da “linguagem vangloriosa e abusiva” e estava sobrecarregado pela “ignorância e a extravagância grosseira”. Ele ensinou “absurdidades” em áreas tão importantes quanto a Eucaristia e é então culpado de um “erro muito abominável“: tão ruim que ele “romanceia mais largamente” que o herético Marcião.
Escrito por Dave Armstrong. Artigo original aqui.
Traduzido por: Arthur Jordan (25/01/2019).
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