Marcus Grodi é o fundador e presidente do Coming Home Network, um apostolado leigo com o objetivo de ajudar não-católicos a voltarem para casa e estarem em casa na Igreja Católica, e que já consta de milhares de testemunhos de conversão (de evangélicos, batistas, pentecostais, presbiterianos e reformados, luteranos, metodistas, anglicanos e espiscopalianos, da igreja de Cristo, judeus, muçulmanos, ateus e agnósticos, e outros) à Igreja seja no site (chnetwork.org) ou no programa The Journey Home, apresentado pelo próprio Marcus. Ele foi pastor presbiteriano, servindo no protestantismo por mais de 15 anos. Em 20 de dezembro de 1992, ele e sua família entraram na Igreja Católica.
Abaixo encontra-se um pequeno relato de como dez versículos o orientaram em direção à Igreja. Alguns dizeres em itálico são acréscimos meus para maior clareza. O texto original encontra-se aqui.
10 versículos que eu nunca vi como um pastor protestante
Uma das experiências mais comumente compartilhadas por protestantes conversos à Igreja Católica é a respeito da descoberta de versículos “nunca vistos”. Mesmo após anos de estudo, pregação e ensino da Bíblia, às vezes da capa à contra-capa, um versículo “nunca visto” aparece de súbito, como por mágica, e torna-se um “Aha!” que abre a mente, um mensageiro que transforma nossa vida em uma “catástrofe” espiritual. Às vezes trata-se de apenas reconhecer um outro significado, mais claro, de um versículo familiar; mas, por vezes, como com os versículos mencionados abaixo, literalmente parece como se algum católico tivesse adentrado escondido durante a noite e de alguma forma posto aquele versículo lá no texto!
A lista desses versículos surpreendentes é sem fim, dependendo especialmente da antiga tradição religiosa do converso; mas os seguintes são uns poucos versículos chave que orientaram meu coração em direção ao lar.
1. “Tem confiança no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes na tua prudência. Pensa nele em todos os teus caminhos, e Ele mesmo aplanará as tuas sendas” (Provérbios 3,5-6).
Desde o meu re-despertar adulto (leia “experiência de nascer de novo”), aos 21 anos, esse Provérbio tem sido meu “versículo de vida”. Ele parecia realmente ser como um guia para todos os aspectos da minha vida e ministério; mas então, durante meus nove anos como ministro Presbiteriano, eu me tornei desesperadamente frustrado pela confusão do Protestantismo. Eu amava Jesus e cria que a Palavra de Deus era a única regra de fé infalível digna de confiança; mas assim faziam muitos ministros e leigos não-presbiterianos que eu conhecia: metodistas, batistas, luteranos, pentecostais, congregacionalistas, etc., etc., etc. O problema era que todos nós encontrávamos diferentes conclusões, às vezes radicalmente diferentes, a partir dos mesmos versículos. Como alguém “tem confiança no Senhor de todo o coração”? Como tu podes ter certeza que não estás te firmando “na tua prudência”? Todos nós tínhamos opniões diferentes e listas de requerimentos. Um versículo que eu sempre tinha confiado de repente tornou-se nebuloso, imensurável e inacessível.
2. “Escrevo-te estas coisas, esperando que em breve irei ter contigo; porém, se tardar, para que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e firmamento da verdade” (1 Timóteo 3,14-15).
Scott Hahn puxou esse sobre mim. “Então, Marc, qual é a coluna e o firmamento da verdade?”. Eu respondi: “A Bíblia, é claro”. “Ah é? Mas o que é que a Bíblia diz?”. “O que você quer dizer?”. Quando ele me falou para procurar esse versículo, eu não suspeitei nada. Eu tinha ensinado e pregado ao longo de 1 Timóteo muitas vezes. Mas, quando eu li esse versículo, era como se ele tivesse de repente aparecido do nada, e meu maxilar caiu. A Igreja?! Não a Bíblia? Isso bastou para fazer minha mente e essencialmente toda minha vida desequilibrar-se; a questão de qual Igreja (tratava-se) era uma que eu não estava pronto para abordar.
3. “Mas tu persevera no que aprendeste e de que tens a certeza, sabendo de quem aprendeste; desde a infância tiveste conhecimento das sagradas letras, que te podem instruir para a salvação, pela fé que está em Jesus Cristo. Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda a boa obra” (2 Timóteo 3,14-17).
Os versículos 16 e 17 eram os textos que eu e outros sempre voltávamos para reforçar nossa crença na Sola Scriptura (Só a Escritura), então para eles eu rapidamente voltei minha atenção. Dentre muitas outras coisas, três coisas importantes tornaram-se bastante claras, pela primeira vez: (1) quando Paulo usou o termo “Escritura” nesse versículo, ele só poderia ter significado o que nós chamamos o Antigo Testamento. O cânon do Novo Testamento não seria estabelecido por mais 300 anos! (2) “Toda” a Escritura não significa “só” a Escritura, nem especificamente o que temos nas nossas bíblias modernas. E (3), a ênfase no contexto desses versículos (14-15) é a confiabilidade da tradição oral que Timóteo tinha recebido de sua mãe e outros – não (se trata da) Sola Scriptura!
4. “Permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições, que aprendestes, ou por nossas palavras ou por nossa carta” (2 Tessalonicenses 2,15).
Esse era outro versículo “muito quente para lidar” que Scott jogou sobre meu colo. As tradições (ouso dizer, tradições) que esses antigos cristãos deveriam permanecer e conservar eram não somente as cartas escritas e Evangelhos que eventualmente constituiriam o Novo Testamento, mas a tradição oral. E ainda mais significante, o contexto das cartas de Paulo indica que sua maneira normal, preferida, de transmitir “o que ele recebeu” era oralmente; suas cartas escritas eram um adicional acidental e às vezes não planejado, lidando com problemas imediatos – deixando não dito muito do que eles (os destinatários das cartas) tinham aprendido pelo ensinamento oral.
5. “Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os seus discípulos, dizendo: ‘Que dizem os homens que é o Filho do Homem?’. Eles responderam: ‘Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas’. Jesus disse-lhes: ‘E vós quem dizeis que eu sou?’. Respondendo Simão Pedro, disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’. Respondendo Jesus, disse-lhe: ‘Bem-aventurado és, Simão Bar-Jona, porque não foi a carne e o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos céus. E eu digo-te que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus” (Mateus 16,13-19).
Há tanta coisa a discutir nesse versículo, tanta que eu nunca vi. Eu sempre soube que os católicos usavam-no para argumentar a autoridade petrina, mas eu não estava convencido. Para o ignorante ingênuo, as palavras inglesas “Peter” (Pedro) e “rock” (pedra) são tão diferentes (em inglês) que é óbvio que Jesus estava se referindo a fé de Simão Pedro recebida como dom do Pai. Para os estudantes da Bíblia educados no seminário e mais informados, como eu, eu sabia que por detrás do inglês estava o grego, onde se descobre que Pedro (Peter) é a tradução de Petros, significando pedra pequena, e pedra (rock) é a tradução de petra, pedra grande. Novamente uma desconexão óbvia, pois por anos eu acreditei e ensinei especificamente contra a autoridade petrina. Então, através da leitura do maravilhoso livro do Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism (Catolicismo e Fundamentalismo), eu compreendi as implicações de algo que eu sempre soube: por detrás do grego estava o aramaico que Jesus falava originalmente, no qual as palavras para Pedro e pedra são idênticas – Kepha. Uma vez que eu vi que Jesus tinha dito essencialmente “Tu és Kepha, e sobre esta kepha edificarei a minha Igreja”, eu soube que estava em perigo.
6. “E ouvi uma voz do céu, que dizia: ‘Escreve: Bem-aventurados, desde agora, os mortos, que morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem dos seus trabalhos, porque as suas obras os seguem” (Apocalipse 14,13).
Por anos, como um pregador calvinista, eu recitei esse versículo em todo serviço funerário. Eu cria e ensinava a Sola Fide (Só a Fé) e descontava às obras qualquer lugar no processo da nossa salvação. Mas então, após meu último serviço funerário como ministro, um membro da família do falecido me encurralou. Ele me perguntou, com um temor em sua voz, “o que você queria dizer (quando disse) que as obras do Bill o seguiriam?”. Eu não lembro minha resposta, mas essa foi a primeira vez que eu tomei consciência do que eu estava dizendo. Isso me fez começar um longo estudo sobre o que o Novo Testamento e então os Antigos Padres da Igreja ensinavam sobre a conexão misteriosa, mas necessariamente sinergista, entre nossa fé e nossas obras.
7. “Como invocarão, pois, aquele em quem não creram? Ou como crerão naquele, de quem não ouviram falar? E como ouvirão, sem haver quem lhes pregue? E, como pregarão eles, se não forem enviados?” (Romanos 10, 14-15).
Eu sempre tinha usado esses versículos para defender a importância central da pregação e o porquê que eu, por esse motivo, tinha desistido da minha carreira na engenharia para (entrar no) seminário e ter o grande privilégio de tornar-se pregador do Evangelho! E eu nunca estive incomodado pela última frase sobre a necessidade de ser “enviado”, uma vez que eu poderia apontar para minha ordenação onde ministros locais, anciãos, diáconos e leigos impuseram suas mãos sobre minha cabeça para me enviar no Nome de Jesus. Mas então, primeiro através de minha leitura da história e escritos dos Antigos Padres da Igreja e depois através de minha releitura do contexto escriturístico das cartas de Paulo, eu percebi que Paulo enfatizava a necessidade de ser “enviado” porque a ocasião de suas cartas era de combate às influências negativas e heréticas de auto-nomeados mestres falsos. Eu nunca pensei em mim mesmo como um mestre falso; mas por qual autoridade aquelas pessoas me enviaram? Quem as enviou? Nisso eu percebi a importância da sucessão apostólica (aqueles que tinham sido enviados).
8. “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como a vara não pode de si mesma dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.” (João 15,4) e “O que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56).
Aquele que come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. O livro da Bíblia que sobre o qual eu mais peguei foi o Evangelho de João e a seção mais pregada foi João 15, a analogia entre a videira e os ramos. Eu bombardeei minha congregação com a necessidade de “habitar” ou “permanecer”em Cristo. Mas o que isso significava? Eu sempre tinha uma resposta; mas, quando eu vi “pela primeira vez” o único versículo onde Jesus mesmo define claramente o que devemos fazer para permanecer Nele, eu fiquei chocado. “O que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele”. Isso me levou a estudar uma carga de versículos em João 6 “que eu nunca tinha visto antes”, e, ao final, quando tratou-se de aceitar Jesus em Sua Palavra sobre a Eucaristia, eu tinha apenas uma resposta: “Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna”.
9. “Eu, agora, me alegro nos sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja” (Colossenses 1,24).
Eu não sei se eu propositadamente evitei esse ou apenas o deixei escapar cegamente; mas, nos primeiros 40 anos da minha vida, eu nunca vi esse versículo. E, para ser honesto, quando eu finalmente o vi, eu ainda não sabia o que fazer com ele. Nada no meu plano de fundo luterano, congregacionalista ou presbiteriano me ajudou a entender como eu ou qualquer um poderia se alegrar no sofrimento, e especialmente porque qualquer coisa era necessária para completar o sofrimento de Cristo: nada estava faltando! O sofrimento de Cristo, morte e ressurreição eram suficientes e completos! Dizer qualquer menos era atacar a completude onipotente da graça soberana de Deus. Mas então, novamente, era o apóstolo Paulo falando sem erro e infalivelmente na Escritura. E éramos para imitá-lo como ele imitou a Jesus. Foi necessário uma leitura da encíclica de João Paulo II sobre o significado do sofrimento para abrir meus olhos à beleza do mistério do sofrimento redentor.
10. “Então Maria disse: ‘a minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador, porque lançou os olhos para a baixeza da sua serva. Portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Porque o Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas, o seu nome é santo”. (Lucas 1,46-49).
Finalmente, o obstáculo mais difícil de superar para tantos conversos protestantes: Nossa Bem-Aventurada Mãe Maria. Pela maior parte da minha vida, o único lugar que Maria entrava em cena era o Natal – e, ouso dizer, como uma estátua! Mas eu nunca a referi como “bem-aventurada”. No entanto, a Escritura diz que todas as gerações a chamarão bem-aventurada. E por que eu não (faria o mesmo)? Isso me levou a ver outros versículos pela primeira vez, incluindo João 19, onde da Cruz Jesus deu sua Mãe ao cuidado de João, ao invés de qualquer suposto irmão, e pela graça eu comecei, imitando meu Senhor e Salvador e irmão eterno Jesus, a reconhecê-la também como minha amada Mãe.
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